Quanto tempo você consegue resistir a uma provocação, sem partir para cima?


Um dos trechos mais difíceis de praticar nos evangelhos é o de "dar a outra face", descrito nas Bem-Aventuranças. (Mateus 5)
Aliás, se é que existe algum fácil, sem exigir renúncias e mudanças de atitude.
Hoje, voltava pra casa, trazendo o JG do colégio. Dia de véspera de feriado, tudo corria as mil maravilhas.
Tudo de boa, como dizem os jovens.
Entro na Avenida do Sol, agora estou a 7,5 KM de casa.
O sol está se pondo.
Até respiro a felicidade. É final de semana prolongado, e estou pronto para relaxar e celebrar a vida.
À minha frente segue um caminhão de material de construção.
Atrás de meu carro, uma moto transada.
Daquelas de clubes. O motoqueiro deve ter minha idade.
Dou a seta e tento ultrapassar o caminhão-tartaruga.
Olho pelo retrovisor e vejo que o motoqueiro fez a mesma coisa.
Desacelero para que ele passe pela minha direita, já que ele insiste em emparelhar conosco.
JG dorme languidamente.
O motoqueiro passa por mim, vejo que é um bem apessoado senhor de meia idade.
Ele vocifera algo para mim.
Segue à minha frente dando o dedo e gesticulando de forma brava.
Fico indignado. O cara vem atrás de mim, salta na minha frente durante uma ultrapassagem - em que tenho a preferencial, e eu ainda reduzo para que ele conduza a manobra, e o bonitão fica bravinho.
Fiquei atônito e babava de raiva.
Então, começo a persegui-lo.
Emparelho meu carro com a moto dele. Desço o vidro, e digo-lhe que eu dei passagem a ele, e que a reação dele é descabida.
Escuto um monte de coisas, impublicáveis.
Aí sigo na sua traseira, perseguindo-o e fuzilando-o com olhar.
Ele idem, olhando pelo seu retrovisor e falando sozinho, pois eu não o escutava. Mas sentia que boa coisa ele não falava para mim. Aliás, as mãos dele também falavam muito.
Uns 6 KM à frente ele entra num condomínio, emparelho mais uma vez e algo me leva a trocar o dedão que iria dar, por um singelo tchau.
Daquelas saudações que fazemos aos amigos.
Um espaçoso tchau.
Cheguei em casa com o sangue fervendo.
E se JG não estivesse no carro?
Eu o chamaria para uma luta corpo a corpo?
Com o tamanho de minha ira, chamaria sim.
Dois velhos estariam nessa hora numa DP qualquer, prestando queixa um contra o outro.
Caso algo pior não acontecesse.
Preciso exercitar Mateus 5. Praticar mais a não violência-ativa.
Ceder para não propagar o fluxo de ira.
Agora, sinto-me envergonhado. Gostaria de poder voltar a fita.
Não dá. O homem bruto acordou e quase provoca uma desgraça.
Como é difícil manter a coerência entre o que se prega e o que se pratica.
Decepcionei-me comigo mesmo. Preciso exercitar mais o auto-controle emocional, evitar entrar em duelos evitáveis, e por pouca coisa.
Reaprender a engolir sapos, mesmo que estando certo.
Aprendi com minha mãe: quando um não quer, dois não brigam. Aprendi ainda não.
"Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.
Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão."
Mateus 5:23-25

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