Belos como Estela Maris {Autor Ricardo de Faria Barros}


Estávamos na Praia de Lucena, na Paraíba, há uns 40 KM de João Pessoa quando decidimos caminhar pela areia, até onde a praia desse uma curva, seguindo a rota dos coqueirais. O dia estava lindo, céu anil e o mar bem morno, uma delícia.
Deixamos a mesa, de bar de praia, sob os cuidados da Celina e o JG e seguimos para aventurar pelas redondezas.
Ao longe, começamos a avistar um ajuntamento de pessoas bem mar adentro. Como aquilo era possível, como elas estavam a pé, naquele local bem no fundo, cercadas por mar de ambos os lados?
A cena era de indefinível beleza, e percebemos que elas estavam sobre uma faixa de areia de uns 200 metros de largura, por uns três quilômetros de comprimento, que se projetava ao alto mar.
Como se fora um banco de areia, em formato de bengala.
Até ousados motoristas, e suas possantes 4 x 4, naquela faixa entravam e seguiam até onde havia praia, tendo ao seu lado mar profundo.
Descobrimos que esse lugar chama-se de Pontinha de Lucena e é uma das joias da Paraíba, não divulgadas. Infelizmente, ou felizmente, dependendo do ângulo.
Mesmo receosos, com medo da maré subir rapidamente, resolvemos por aquele istmo caminhar, até onde a faixa de areia se encontrasse com o mar profundo.
Quando acabou a faixa de areia, ainda tinha uns 200 metros de mar bem rasinho, que ondas tímidas lavavam a areia. Sobre as quais conchinhas descansavam, ou conversavam alegremente.
Eis que avistamos a estonteante Estrela do Mar, a "EstelaMaris", a rainha do mar e sua esplendorosa beleza.
Tive receio que mais alguém a visse e a retirasse do leito do mar, como um troféu, coisa de incautos banhistas.
Para mim, só levo de troféu as fotografias. E, discretamente, sem chamar muita atenção de outros banhistas que estavam próximos, fiz uma sequencia de fotos da rainha do mar.
Quem ver uma estrela do mar não fica mai o mesmo.
A nossa, essa da foto, tinha 9 pernas.
Já era uma adulta, uma Senhora Estela Maris {Estrela do Mar}.
Entabulei uma conversa com ela enquanto pedia umas poses. Ela falou-me que seu segredo está na forma como cada perna distribui a força para o corpo, irradiando em triângulos imaginários o peso.
Não entendi e perguntei-lhe: "como?"
Ela me disse que cada perna não termina sobre a outra, mas sim sobre um espaço formado por duas outras, distribuindo a tensão pelo conjunto.
E que, desse modo, quando perdia uma da pernas, por algum acidente ou ataque dos bichos do mar, o impacto era apenas da que tinha sido decepada, sem provocar danos nas demais, por não estarem ligadas extremo a extremo.
Louvei ao bom Deus por aquela explicação e pela sabedoria da mãe natureza ao conceber o projeto estrutural da Estrela do Mar.
Ali à minha frente havia nove pernas que não causavam dano algum, às suas companheiras, quando de forma orquestrada se locomoviam.
Também, estavam nove pernas que se ajudavam, ao respeitarem a autonomia uma das outras ao dividirem entre si as tensões do ambiente e do movimento das coisas.
Em engenharia civil o fenômeno que elas criaram chama-se de treliça, muito utilizada nas coberturas de edificações, em aço e madeira.
A treliça torna três hastes que se conectam (pernas das estrela do mar), num triângulo de forças, bem mais fortes, caso assim não o fizessem.
Creio que essa estrela do mar tem muito a nos ensinar sobre relacionamentos.
Relacionamentos verdadeiros, autênticos, livres e emancipadores de nosso potencial.
Quem me lê nesse momento e tem relacionamentos assim sabe do que falo.
Relacionamentos que nos ajudam a suportar as tensões, mas não carregam nosso próprio peso - tirando de nós mesmos a possibilidade de crescer, ao sufocar-nos com tanto cuidado.
Relacionamentos que nos ajudam a caminhar, tal qual as nove pernas da Estrela, ao criar sinergias de movimento, deixando por ele fluir as emoções positivas em nosso viver.
Quem tem um amigo, ou mais de um, caso felizardo seja, sabe de que falo.
Aquele amigo que quando estamos cansados, querendo desanimar, sem qualquer reação de mexer nossa perna, ele mexe a dele, ao nosso lado, e nos faz avançar mais um pouco, sem tirar de nós o papel de ser protagonista de nosso próprio existir.
Minha Dama do Mar, a ti sou grato. Fazia quase um ano que essa crônica estava guardada em meu coração e não encontrava palavras para descrevê-la, agora elas me vem aos borbotões.
Para compreender as estrelas do mar precisa já ter se sentido amado, precisa também já ter amado.
Precisa da ternura do olhar, do afeto do acolher e do sentir brotando de empático ser. Como quem deixa fluir por si mesmo e pelos outros que lhes rodeiam a luz de nalvas manhãs, descortinando-se surpresas por existir.
Temos então nove possibilidades de movimentar nosso ser, em busca do ser mais, sem que nenhuma delas crie na outra uma co-dependência doentia, nem diminua-lhe a força. Pelo contrário, essas nove possibilidades combinam-se, em sinérgicos arranjos, potencializando o efeito de uma sobre a outra, tal qual minha amiga do mar faz, ao avançar mar adentro.
Cuide de suas nove perninhas emocionais que as defino como, sem nenhum critério de ordem ou importância, abaixo:
Gratidão
Perdão
Generosidade
Esperança
Amorosidade
Esperança
Solidariedade
Paz
Mansidão
Essas nove emoções transformam vidas modorrentas em vidas encantadas, dão propósito e significado ao acontecer.
Nos libertam de condicionantes, de determinismos e de influências toxicas, restaurando nossas forças e cirando corajosas metamorfoses, para o mais.
Então, queridos e pacientes leitores, de meus textões, as pernas são os relacionamentos saudáveis. E o combustível que as fazem andar, crescer, desenvolverem-se são a mística energia das nove emoções, atuando sobre as pernas de viajantes peregrinos - de nós mesmos, que no limite é o que somos.

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