Cartas ao JG - Quem é Jesus? (Autor Ricardo de Faria Barros, pai do João Gabriel, 7 anos)

Querido João Gabriel, nesse natal convidei algumas pessoas para estarem conosco e falarem de Jesus.
O motivo é que descobri que não o conheço.
Se não o conheço, como posso amá-lo?
O Jesus que conheci, foi-me apresentado pelas religiões, dogmas, catecismos, e por pregadores de cara sisuda, que nos ameaçavam com o inferno, caso não saíssemos do pecado.
Hoje vieram três pessoas em nosso lar, vieram falar de Jesus para nós.

A primeira que começou a testemunhar era uma mulher da vida. Como chamamos no baixo clero, uma puta.
Ela dirigiu-nos a palavra.
Jesus chegou em minha vida no dia em que fui acusada de adultério. Uma horda de pessoas me empurrou para uma praça pública e ali, pedras na mão, começaram meu julgamento. Eu baixei a cabeça, sabia que morreria em poucos minutos.
Aí notei que a horda silenciou. Não tive coragem de erguer minha face. Achei que a qualquer momento um tijolo racharia meu crânio. Eis que escuto uma voz: “Quem dessa multidão não tiver pecado, que atire a primeira pedra! ”
E todos foram embora e deixaram-me em paz. No outro dia, eu sabia que Jesus iria almoçar na casa de gente famosa. E, como um deles tinha sido meu cliente, pedi-lhe que entrasse escondida no almoço. Entrei e me aproximei Dele, vindo pelas suas costas. Ninguém me percebeu chegando perto Dele. Aliás, as pessoas baixavam a vista ao me ver, no claro do dia, e aquilo protegeu meu avançar lentamente até Ele Chegando bem perto, tirei de meus peitos um pequeno frasco com um óleo perfumado e medicamentoso, para pés cansados, um unguento. Então, ungi-lhe os pés, massageando-os e lavando-os, para que aqueles pés cansados de tanto caminhar entre nós recebesse um conforto da ternura, do cuidado. Usei de meu melhor unguento perfumado e relaxante, daqueles que só usava quando recebia renomados cidadãos de Roma. E aí, Ricardim, ele olhou-me com olhos de lua cheia e me amou, libertando-me de tudo que me impedia de ser.
Olhei para JG e pedi que ele fosse buscar meu disco de Vinil mais precioso, um Cartola que ganhei do Anderson Nobre, e a presenteei com ele.
Ela me disse que todos naquela mesa, aqueles que o receberam, esqueceram de fazer-lhe qualquer agrado, só querendo “venha a nós”. E nada de vosso Reino. Ela me disse que a força do amor Dele restaurou no coração dela a vontade de viver, de outra forma, dando-lhe a dignidade de recomeçar.

Fez-se silêncio compungido.

Até que um franzino senhor ergueu a voz. Eu fazia parte do grupo odiado pelos judeus. Eu cobrava imposto deles, para o governo de Roma, me chamo Zaqueu. E não era pouco imposto. Aos que não pagavam, eu decretava penas severas. Minha presença era motivo de nojo, entre eles, os judeus. Para eles, eu representava a escória da sociedade. Eu tinha acumulado muito dinheiro, era rico. Parte do imposto que eu recolhia, desviava para mim mesmo. Mas não era feliz. Tinha tudo. Casa boa, comida farta, bebida a perder de vista e muitas mulheres. Muitas! Mas, vivia com gosto de guarda-chuva na boca. Vocês me tendem Ricardim e JG? Aquela vida de poder, prazer e ter não me saciava. No outro dia, após os bacanais, eu me sentia vazio, infeliz, sem amor algum. Aliás, nunca amei ninguém até Ele. De tanto cobrar impostos dos Judeus fiquei sabendo que um de seus profetas iria passar perto de minha casa. E que esse profeta falava de amor. Amor era o único bem que eu ainda não tinha. Então, com mente de acumulador, pensei: “tenho que conquistar o amor”. A multidão se acumulou na pequena ruela, eu não conseguia ver nada, tenho 1 metro e 60 cm e todos cobrem minha visão. Eu precisava ver quem era aquele profeta que falava de amor, quem sabe ele me venderia o segredo de amar. Vi que tinha uma árvore que sombreava a passagem. Subi num telhado, e dele me trepei nos galhos da árvore, tal você faz JG.
Lá de cima senti o que ele vinha passando. O povo cantava, gritava, lançavam sobre ele pétalas de flores, e pó de arroz. Outros faziam súplicas lancinantes. Quando ele passa embaixo da árvore parou. Sabe JG, senti o mesmo que vê sento quando seu pai para e lhe ver lá no alto da seriguela. E lhe diz: “Desce daí”. Ele olhou-me e disse: Desça daí, hoje vou entrar na tua casa. Houve um murmúrio geral, as pessoas sabiam quem eu era. Muitos afastaram-se Dele, em protesto. Um de seus discípulos cochichou algo em seu ouvido, notei que Ele ficou bravo com o discípulo, que se afastou Dele. Sabe Ricardim e JG, Ele entrou em minha casa sem me pedir anda em troca. Eu fui quem se antecipou e resolvi doar a metade de meus bens aos pobres e ressarcir em 4 vezes todos que fraudei. Ele não me pediu nada. Só me amou. E, rendido estou ao Amor Dele.

Aí filho, você pediu um pouco de churrasco e quebrou a emoção que reinava na mesa.

Nessa hora nossa terceira convidada fala. Eu tinha uma doença incurável. Um fluxo de sangue saia de alguns de seus poros. Como quem tinha lepra, eu não podia entrar na cidade, sem antes ter pessoas à frente batendo sinos para que se afastassem de mim. Me isolaram de todos. Eu vivia numa espécie de chiqueiro de porcos, para não contaminar ninguém. À noite chorava de saudade de meus filhos que não podia mais niná-los. Durante o dia eles vinham me alimentar, por entre as frestas de minha “casa”. Fui condenada à morte em vida, a pior de todas, a morte social. Não podia ir às festas, ao Templo, à feira e à praça. Nessa hora filho, você perguntou: Por que?
Ela te respondeu assim. JG, fui condenada pelo medo, desconfiança e preconceito, fruto da ignorância e visão distorcida da realidade. Minha doença não é contagiosa, ou transmissível, ela é genética. Mas, naquela época, não havia conhecimento, e onde o conhecimento falta, as trevas abundam. Um de meus filhos me disse que chegaria mais tarde com o almoço, pois iria ver Jesus, um profeta famoso que iria passar pela cidade. Que só falava de amor.
Não dormi naquela noite. Se esse profeta falava de amor, saberia o que estou passando. Então preparei um plano. Precisava chegar até ele. Botei umas vestes pesadas, sobre minha pele em sangue vivo. Mesmo doendo, pelas inflamações, era necessário que eu me disfarçasse. E segui até a estrada. Uma multidão me empurrou para longe. Só tinha uma forma de chegar até ele, ir me rastejando entre os pés. Meu corpo todo doía. Ia avançando, por baixo, levando chutes, empurrões e xingamentos. Eu ia engatinhando, avançando, minhas roupas velhas foram se rasgando, o sangue aparecia. Eu rastejava, dolorida. Eis que vejo um manto branco à minha frente, ergo a vista e vejo que só pode ser Ele. Engatinho com todas as forças que me restam, toco seu manto. E uma força sai dele, me renovando inteiramente. Sinto-me curada. Ele para. Pergunta em voz alta, “quem me tocou?” Os apóstolos dizem-no que todos o tocaram, tal a multidão que se comprimia sobre Ele. Ele retruca que dentre todos os toques, aquele tinha sido o único toque de fé que recebera, os restantes eram de interesse apenas Ele volta-se para mim e me reconhece. E diz que a minha fé havia me curado. Umas pessoas chegam perto Dele e dizem-no que já não precisa ir curar a menininha doente, que ela falecera. Como se Lhe culpassem por ter parado e se importado comigo. Ele apenas resmunga: Ela dorme. O povo ao meu redor, ao me reconhecer, abriu uma clareira, com medo de minha doença. Ele diz em voz alta que estou curada. E que posso voltar para casa. Aquilo foi minha maior honra maior. Poder voltar a viver com meu povo, meus amados, sem ser dentro de uma prisão, a qual o preconceito me condenara.

Ricardim e JG, esse é o Jesus que nos tocou e que conhecemos. O resto é só um esboço do que ele é. Gente que briga em nome Dele, com as “armaduras da fé”.
Gente que olha a trave no olho do próximo, sem nenhuma misericórdia aos que pensam e agem diferente deles. Gente repleta de dogmas, verdades sagradas, preceitos, lições decoradas de velhos catecismos, de sisudos apóstolos falando de amor, com práticas de desamor e de gente que prega muito mais o Deus vingativo do pecado e da morte, do que o que conhecemos, o do amor e da graça. Nosso Jesus, que nesse dia lhes apresentamos, é o do amor incondicional.

Meus três convidados, juntam as mãos às nossas e desejam Feliz Natal.

Feliz Natal Ricardim e seus amigos(as) que nos leem. E lembrem-se, nada é maior e mais forte do que a força do amor.

E, o amor não tem bandeira, país, credo, gênero, raça, sotaque, ideologia, cheiro, ou forma.

O amor simplesmente ama: sem porquês, "ifs", ou circunstâncias.

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