No horário costumeiro, daquele da balbúrdia de voos de passarinhos livres, agora reina um silêncio.
JG nessa semana só está indo para brincar, acabaram as disciplinas, e ele passou de ano.
Aproximo-me da recepção para anunciar minha chegada, para que as tias tragam-no até mim.
Perto da portaria, um belo presépio, anuncia o nascimento de Jesus.
À minha frente, uma senhora bem meiga pede ao porteiro para que seu neto não seja anunciado. Ela quer entrar e fazer uma surpresa, daquelas boas surpresas de vovós. É que hoje foi ela quem veio lhe buscar, para uma noitada de shopping.
O porteiro diz que não pode entrar e fazer surpresa. Que são as tias que trazem os meninos.
A vovó murcha.
Eu murcho.
A humanidade murcha.
Não havia lugar para o amor daquela vovó, na estrutura rígida daquele proceder.
O Presépio testemunhava tudo, cabisbaixo. Dele, uma Senhora de papel emana um olhar de compaixão, para a vovó.
Escondendo-se atrás de processos inflexíveis, pessoas só cumprem as ordens, sem ponderá-las frente à ética da vida. Esquecendo-se que no gesto daquela senhora, estava o que o Dono do presépio nos ensina, o amor.
Aquele mesmo Amor que contraria e subverte a ordem reinante: ao colher espigas no dia de sábado; ao não apedrejar a "pecadora", ao tomar água e conversar com a Samaritana, ao expulsar os mercadores do Templo, ao, ao, ao, ao...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é uma honra.