Não pode! (Autor Ricardo de Faria Barros, o Ricardim)

Todos na escola do JG estão de férias, menos um punhado de meninos, que como ele fazem parte da turma do integral e ainda ficarão até sexta.

No horário costumeiro, daquele da balbúrdia de voos de passarinhos livres, agora reina um silêncio.
JG nessa semana só está indo para brincar, acabaram as disciplinas, e ele passou de ano. 

Aproximo-me da recepção para anunciar minha chegada, para que as tias tragam-no até mim.
Perto da portaria, um belo presépio, anuncia o nascimento de Jesus.

À minha frente, uma senhora bem meiga pede ao porteiro para que seu neto não seja anunciado. Ela quer entrar e fazer uma surpresa, daquelas boas surpresas de vovós. É que hoje foi ela quem veio lhe buscar, para uma noitada de shopping.
O porteiro diz que não pode entrar e fazer surpresa. Que são as tias que trazem os meninos.

A vovó murcha.
Eu murcho.
A humanidade murcha.

Não havia lugar para o amor daquela vovó, na estrutura rígida daquele proceder.

O Presépio testemunhava tudo, cabisbaixo. Dele, uma Senhora de papel emana um olhar de compaixão, para a vovó.

Escondendo-se atrás de processos inflexíveis, pessoas só cumprem as ordens, sem ponderá-las frente à ética da vida. Esquecendo-se que no gesto daquela senhora, estava o que o Dono do presépio nos ensina, o amor. 

Aquele mesmo Amor que contraria e subverte a ordem reinante: ao colher espigas no dia de sábado; ao não apedrejar a "pecadora", ao tomar água e conversar com a Samaritana, ao expulsar os mercadores do Templo, ao, ao, ao, ao...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é uma honra.

Crônicas Anteriores