5 Segundos Adiantado (Autor Ricardo de Faria Barros)


Numa terça em que não dei aula, acabei voltando mais cedo para casa, e vim escutando a Voz do Brasil, uma de minhas esquisitices.
Estava com uma dor de cabeça infernal, coisa que não tenho, e para desparecer sintonizei numa Rádio AM que gosto. Outra de minhas esquisitices.
Após uns 20 km, o sinal dá começou a ficar ruim e mudei para a FM. Aí percebi uma coisa misteriosa.
O Programa na FM, repetia tudo que eu acaba de ouvir na AM, pelo menos uns 5 segundos.
E fiquei brincando de Deus. Botava na AM, e virava pra FM. Até esqueci a dor de cabeça.
Como assim?
Eu descobri que o sinal da Rádio AM chega mais rápido do que o da FM. E, esse mesmo fenômeno, acontece também entre os sinais Analógico e Digital da TV.
O gol do Fluminense, na TV analógica chega primeiro. Pena que esse sinal está sendo extinto.
Fiquei matutando, se nas vezes em que fiz uma coisa de que me arrependo, se eu pudesse ter tido acesso aos 5 segundos posteriores, compreendendo qual seria o impacto daquilo no futuro, se não teria sido melhor, pois eu poderia fazer diferente.
Tipo assim, como os jovens falam por aqui, uma máquina de antecipar em 5 segundos o que vem pela frente, para que pudéssemos alterar rotas ou intenções de ação.
A cabeça latejou, lembrando-me que existia.
E disse não!
Não quero essa máquina de ver o futuro, essa espécie de Rádio AM, antecedendo o que vem por aí. Acho que não podemos mexer no futuro, sem alterar todo o sistema.
Imagine que você ouve, nessa espécie de aparelho que criei, que uma bala perdida vai atingir seu carro.
Aí, você freia bruscamente, fazendo com que o carro que vem atrás do seu sofra um sério acidente. Que não teria sofrido, caso você não tivesse escutado seu futuro, dos 5 segundos, e freado.
A vida acontece mais ou menos, como quando enviamos mensagens pelo WhatsApp, o que fazemos no presente deixa marcas no futuro, que não podem mais ser editadas, ou deletadas.
Lembro de um monte de coisas que não faço mais. Que se pudesse retroceder as fitas, ahh como seria ruim.
Como assim Ricardim?
É pessoal, nem quero uma máquina de antecipar o futuro, nem de retroceder as fitas.
Isso tiraria de mim o livre arbítrio, e a capacidade de viver com responsabilidade e autonomia o tempo presente.
Tiraria a liberdade de vir-a-ser.
Não, não quero!
Embora pudesse concertar um monte de coisas, isso me daria uma falsa sensação de que na vida tem aquela tecla de atalho que volta ao que digitamos antes, após ter digitado algo errado, ou excluído algo sem querer.
E a vida não tem teclas de atalho.
Ou seja, nem dá para voltar ao passado e arrumar as coisas. Nem dá para fotografar o futuro, e alterar as cenas dele no presente, sem estragar todo o filme da vida que a essa cena se conectará.
E isso é maravilhoso!!!
O presente é o que temos para hoje.
É no presente que emitiremos nossas vozes que ecoarão na eternidade.
É no presente que teremos consciência de nossas ações, do impacto delas sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre a realidade, podendo com essa consciência crítica mudarmos a nós mesmos, a eles e à “natureza das coisas”.
Não é legal?
Uma reação minha descontrolada, no passado, e que magoou alguém, sobre ela eu não tenho mais controle. Não posso voltar as fitas.
No máximo, posso me arrepender, pedir perdão, e aprender com o ocorrido para não mais repetir aquele proceder.
Então, meus queridos leitores, nós temos sim uma Rádio AM que nos antecipa sobre o futuro.
Ela se chama consciência. Que desenvolve o discernimento e uma certa previsão do que pode ocorrer, novamente, se repetirmos os mesmos atos que fizemos no passado, e que não deram certo.
Não é maravilhoso?
Passamos a nos sentir bem mais responsáveis pelo aqui e agora, pois é de presente e presente que o futuro vai se moldando e que o passado vai virando a nossa história, vai sendo deixado nele o nosso legado.
Muitos chamam essa rádio AM, com avanço de 5 segundos em relação à FM, de Sexto Sentido.
Eu chamo esse fenômeno de sensibilidade emocional.
O famoso “Se Mancol!”
É quando a vozinha interior nos diz: “Cuidado, não proceda assim, se acalme, pode dar merda, lembra?”
E vamos crescendo, nessa maravilhosa aventura de viver. Crescendo em humildade de reconhecer nossos erros, aprender com eles e mudar.
Crescendo em novos aprenderes, de coisas que embora parecidas que estamos vivendo, as conduziremos de forma totalmente diferente.
Crescendo no escutar e no prestar atenção, de nossas vozes e ações no presente, entendendo que serão eles que reverberarão e moldarão um lugar que chamamos de destino.

Bendita dor de cabeça!

Ela fez cair a ficha que me diz: Você é inteiramente responsável pelas ações cujo controle depende única e exclusivamente de seu acontecer. Portanto, não terceirize sua existência; nem ache que a vida voltará pra que você possa fazer novamente. Nem voltará, nem adianta querer ver como será o amanhã.

Para viver uma vida que vale a pena ser vivida, tem que se aprender a degustar o hoje: seja ele doce ou salgado, frio ou quente, duro ou macio...
E, nesse degustar, aprender a valorizar o que realmente tem importância, a ter coragem para mudar o que realmente pode mudar, e serenidade para conviver com aquilo que não dá para alterar. E, muito discernimento para entender a diferença entre uma coisa e outra. Como disse Francisco de Assis: “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado... Resignação para aceitar o que não pode ser mudado... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”

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