O Humano do Digital (Por Ricardo de Faria Barros)


Qual é o Humano do digital, nas Competências para o negócio e trabalho, nos tempos atuais?

Com essa pergunta, abrirei minha participação no Segundo Fórum Trilhas de Aprendizagem: Gestão por Competência em Empresas Públicas e Privadas, que acontecerá em Brasília, de 12 a 13/09/2017, produzido pela Inteletto. (www.inteletto.com

Antecipo algumas reflexões que ali serão proporcionadas. Nunca esquecerei o dia em que meu gerente perguntou se eu tinha WhatsApp, em setembro de 2013. E, até parece que foi no século passado. Olhei para ele, totalmente “ignorante" no assunto, e com a minha melhor cara de paisagem soltei um: “Uotezape o que?”, eu não sabia o que era aquilo, e estava à margem daquele mundo digital.
Chamei um estagiário que passava por perto, pedindo-lhe que me ensinasse o tal do “uot”, e aprendi.
Hoje, de meus pais à Casinha Mineira, aqui no DF, todo mundo “Uota” pra todo mundo. 
Com ele negócios são fechados, namorados namoram, famílias se reencontram, amigos interagem, e até trabalho são trabalhados.
O celular virou algo que até dá para nele se telefonar. Mas, isso deixou de ser o seu atributo principal. Quem diria!
Nessa sociedade conectada e em rede, as possibilidades de novos negócios, interação social, produção de conhecimentos e co-criação de bens, produtos e serviços, avançam a passos largos. Com forte impacto no desenvolvimento de competências, e até nos modelos de negócios, como exemplo o dos Bancos.
Sem prejuízo de outras competências, e sem querer esgotar um tema tão rico, listo quatro competências com “viés de alta” na economia digital em que vivemos:

1. Comunicação Não-Violenta - Desenvolver uma comunicação de qualidade, empática e eficaz com os outros, fazendo as devidas distinções entre: observações e juízos de valor; opiniões e sentimentos; necessidades e estratégias; pedidos e exigências. Ela se expressa também em práticas restaurativas de administração de conflitos. Essa talvez seja a mais catalisadora e humana das competências oriundas da nova economia digital.

2. Letramento Digital - Ser capaz de buscar, avaliar, criar, distribuir e operar as mais diversificadas fontes e canais tecnológicos, cada vez mais será uma das fontes de riqueza das organizações. Explorar e aproveitar as potencialidades das mídias e redes sociais, da web, das plataformas de interação e dos sistemas eletrônicos de automação produtiva virou a regra, não mais a exceção. Na sociedade digital, não há mais separação entre presencial e virtual. O negócio e trabalho acontecem em todo lugar, e a todo momento, exigindo um contínuo processo de desenvolvimento nas competências técnicas e humanas. Saber aproveitar os mais diversificados recursos de interação e de posicionamento empresarial, com uso dos canais tecnológicos, poderá fazer a diferença na competitividade empresarial.

3. Interação Produtiva Apreciativa – Seria como se pudéssemos combinar o trabalho em equipe, o relacionamento interpessoal e a produtividade. O fazer coletivo supera o paradigma do espaço x tempo, com atuações inovadoras em redes coletivas de produção de significados e labor. Ela se expressa na capacidade de compartilhar competências em busca de objetivos comuns, apreciar as contribuições dos outros, acolhendo-as e em cima delas operar, interagir positivamente com pessoas e em ambientes, e na construção coletiva de soluções de bens, produtos ou serviços maximizando a experiência do cliente. Crescerão os espaços pedagógicos de Design Thinking (um novo jeito de pensar e abordar problemas, com o pensamento centrado no usuário) na busca por inovações.

4. Artesanato do Sentido e da Resiliência Restaurativa. Equipes menores, demandas maiores, sobrevivência organizacional colocada à prova todos os dias, além de impensáveis entrantes no mercado, impacta diretamente a qualidade do ambiente no qual se configura o trabalho, e a percepção de seu sentido. Portanto, a capacidade individual, ou coletiva, de restaurar o tecido emocional positivo do trabalho, será vital à saúde do trabalhador e ao clima organizacional, com impactos na produtividade. Todos precisarão ficar vigilantes a um possível crescimento do desânimo, intervindo imediatamente nesse processo, antes que ele altere por completo a percepção e satisfação no trabalho, e até venha a degradar o ambiente laboral. Como um trabalho de artesãos, essa competência terá várias formas de se expressar, adequando-se às realidades locais. Mas, em toda as suas formas estará presente o desafio de revestir as coisas de sentido, de recuperar o vigor e ânimo, após o enfrentamento de situações-limites, restaurando o vigor e tenacidade do time. 

Nesse particular, a atuação e formação dos gestores será ainda mais vital. Para que no exercício da gestão eles possam desenvolver suas equipes, serem líderes eficazes, procedendo com suas práticas à restauração da resiliência do grupo, e a ressignificação permanente do sentido do trabalho. 

Essas quatro competências se combinam sinergicamente potencializando os resultados, uma das outras. Em resumo, os novos tempos que já chegaram, exigirão uma maior capacidade de diálogo com o diferente; aprenderes da gestão social de redes, canais e instâncias digitais que favoreçam o fortalecimento dos elos produtivos; a capacidade de criar coletivamente, tijolo a tijolo, exigindo desapego cognitivo e doação generosa de saberes; e, por último, uma nova postura gerencial, que os times passam a exigir dos líderes, como a de serem artesãos do sentido do trabalho e fomentadores da renovação da resiliência, individual ou coletiva.

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