Missão: Educar (Autor Ricardo de Faria Barros)



Pelas 19hrs da sexta, a pilha de discos se esparrama sobre a mesa, cadeiras e áreas afins. Resolvi investir meu tempo na apreciação de discos velhos de vinil que coleciono, mais uma de minhas esquisitices. Minha emoção, ao "folhear" cada um deles, era semelhante àquela que tinha, quando olhava para as figurinhas de um álbum que colecionava. Eu sabia que em cada um deles havia um história. Em alguns, até com dedicatórias de pessoas que nem as conheço, mas que ainda sinto o amor delas expresso naquelas linhas, proferido para alguém que fora presenteado.
Noutros, que compro pelos sebos da vida, dou sorte de encontrar o encarte do disco, verdadeiras pérolas culturais.
Já na terceira latinha de cerveja, e viajando ao som do vinil de Xangai, "Que Que Tu Tem Canário". Eis que meu celular toca e é da pós-graduação, do IBMEC-DF.
Letícia pergunta-me se não irei dar aula. Perdendo os pés, e com o coração a mil, digo a ela que deve ter havido algum erro, pois que não leciono essa disciplina na sexta, e sim nas quartas. Ela se despede, pedindo-me desculpas pelo ocorrido.
Relaxo, troco o lado do vinil, coisa que só os de meia idade entenderão, abro mais uma latinha, e o celular toca novamente. Dessa vez, é o coordenador Gaspar quem me aborda, com sua classe corriqueira, e me diz que de fato a disciplina é na quarta, mas que há uma única exceção, que é nessa sexta.
Aflito, pois que não a tinha marcado na minha agenda e costumo chegar uma hora antes das aulas, peço-lhe que comuniquei aos alunos que chegarei em 30 minutos e que os libere para anteciparem o intervalo, dado que pegarei direto para otimizar o tempo.
Não precisa dizer que fiquei altamente nervoso, sou muito rígido com horários e agendamentos. Algum erro de comunicação houvera, mas não era hora de procurar culpados.
Acelerei o passo, não dava pra tomar banho, então tome perfume!
Botei um chiclete na boca, pra tirar bafão de cerveja.
Me adentrei numa calça jeans e camisa, sem perceber que esquecera até do cinto. Despedi-me de Cris que não entendeu nada, nem eu. E corri alucinado para a aula. Sorte que o material da mesma eu já tinha selecionado e estava fácil.
Descendo a escada rolante, os alunos que lanchavam na praça de alimentação, numa enorme mesa coletiva, viram-me e fizeram festa.
Foram as palmas mais bonitas que recebi, nos últimos tempos.
Como é bom ser recebido assim. Senti que sou alguém para eles. Fui lá perto deles, e disse-lhes que em 5 minutos estaria pronto para começarmos mais uma aventura do conhecimento.
Eles sorriam e negociavam comigo para a aula ser ali mesmo. Pensei, até que não seria má ideia. A disciplina se chama Negociação e Gestão de Conflitos, e eles estão ficando bons nisso. rsrs "Não se pode dar asas a cobra". cacaca
Sem cair na fala alegre e envolvente deles, pedi que pagassem suas contas logo, e descessem para a escola.
Entrei na sala de aula e respirei profundamente. Já refeito do susto, e agora já pisando no terreno sagrado da educação, recebi meus meninos e meninas para mais um caso de negociação: A Concessionária de Jeep Trolha x Eco Hotel Fazenda
E eles vibravam, a cada rodada de negociação, com um interesse de fazer babar qualquer educador, principalmente numa aula de sexta à noite, quando muitos já estão cansados da peleja semanal.
Pelas 22h40min a aula encerra, nos despedimos afetuosamente, e volto para casa nas nuvens de feliz, com a sensação de missão cumprida.

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