Permita-se, abrir janelas de seu viver.


Cheguei ontem, completamente alucinado do Rio de Janeiro, para onde fui conduzir duas palestras na Diretoria de Finanças do BB. A beleza de seu Centro Histórico iluminou minha alma e tenho que escrever sobre o que vi. 
O local escolhido pelos organizadores do evento foi o Centro Cultural Banco do Brasil, localizado no Centro Histórico do RJ, no largo da Igreja da Candelária. Pedi um hotel próximo do local, independente do número de estrelas. Estava cansado e não queria me locomover de táxi ou metrô. O pessoal ofereceu outros locais, tipo Copacabana, mas insisti no Centro.
Eu tinha medo do RJ. Nunca me atraiu jeitos malandros, malandros, nem tampouco aquele espírito de festa de praia, por 24h.
Eu era muito chato. Tinha medo de povo, dos marginais que tanto via na TV, dos traficantes, dos arrastões. De errar o caminho e entrar em locais de onde não sairia.
Nas poucas vezes que fui ao RJ, fiquei no circuito hotel de evento/local de trabalho e aeroporto, sempre em Copacabana. Nem na calcadinha eu arriscava, sempre inventava um pretexto para ficar no quarto. Minto, em 1995 num evento de Aids eu saí à noite e curti um boteco nos Arcos da Lapa e, na outra, para dançar com minha agora esposa no Estudantina.
Amei aqueles locais. Até então, eu tinha ido ao RJ 3 vezes: 1995 (evento e hotel e umas saídas pra noite); 2004 (evento em hotel) e 2013 (reunião de trabalho). Não conheço o Cristo, o Pão de Açúcar, o Jardim Botânico, ou seja, sou um tapado.
Mas, melhorei. Eu era um tapado medroso e preconceituoso. Agora só sou um tapado.
Eu não estava pronto para o Rio.

Agora eu estava. E foi amor à quarta vista. Um amor cinquentão.

Indo para o Hotel Guanabara, na Avenida Presidente Vargas, com a Rio Branco, já fui ficando maravilhado com as coisas que vi pelo caminho e do alto, entre o Santos Dumont e o hotel.
Após o check-in, saí para um almoço rápido nas imediações. Mirei uma construção no final da Avenida Presidente Vargas, lembrei de uma foto das manifestações de 2013, quando o povo foi às ruas, deveria ser a Igreja da Candelária. E era. Que coisa mais linda. Peguei uma ruazinha lateral e fui almoçar num pé sujo. Ali comi o melhor feijão preto de minha vida, ou era a fome, ou os dois. Entrando no elevador para o andar da palestra, senti-me no século 18. Tudo está preservado no Centro Cultural BB. Até a operadora do carro usa aquela manivela para acionar os andares, e a porta é uma sanfona de bronze.
Após a palestra, voltei exausto ao hotel. Tomei um banho, e, quando me preparava para fazer um pedido de sopa ouvi ao longe um sambão. Abri a janela e o som ficou mais próximo. Botei uma roupa de pobre, só uns trocados na carteira, com medo de assalto, Saí então em direção à música. Não. Aquela não seria noite de sopa.
Achei o grupo musical a 3 quadras abaixo do hotel. Samba de raiz, daquele de fazer chorar de bom. Os clientes lotavam as calçadas para disputadas mesas. O dono me ofereceu um banco de pé de balcão, fiquei agradecido, aquilo era um camarote. Tome coxinha, feijão com bacon, cerveja e poesia, noite adentro.
No outro dia, acordei bem cedinho e fui explorar as imediações, com olhos faiscantes de adolescente ao descobrir menina moça. Até sebo, com direito a bons vinis, eu achei. Bar especializado em sardinhas, lojas de mangais, gente simples vendendo amor, igrejas a competir com Salvador, povo risonho nas ruas e travessas - outros nem tanto, apressados como traines de executivos.
Quanta cultura e história pelas ruas e travessas: a do Ouvidor; da Quitanda, do Rosário, a Visconde de Inhauma, a Rua da Alfandega, Teófilo Otoni, bati tudo a pé. Conheci o Paço do Império, a estação das balsas, o palácio Tiradentes, a sede do Banco Central, e Igrejas de cair queixos. Conheci travessas que mais parecia que eu estava voltando a 1800. Cheias de locais bacanas para voltar. Essa é a minha classificação de um local bacana, vou voltar.
RJ, desculpe pelo anos de medo e preconceito, voltarei pra te amar novamente, e, no Centrão. Conhecer mais um pouco tua história e beber de tua vida.
Minutos antes da segunda palestra, sabia que era a hora da despedida, sairia correndo dali mesmo para o Santos Dumont, e fui tomar um cafezinho na copa. Perguntei às funcionárias se elas eram cariocas. Responderam que sim e que trabalhavam naquele local há muito tempo. Então, perguntei-lhes se aquele monte de gente que vi chegando pelo mar no Paço Imperial era de alguma balsa vinda de Niterói. Elas não sabiam. Não tinha ido nem ao Paço Imperial, a 400 metros do CCBB. Calei-me, eu era elas um dia. Não tinha olhos para a vida. Era só trabalho. Não tinha mais a magia, mística, encantamento em ver o novo, sempre visto, mas nunca percebido.
Não as culpei.
Agora tomo menos sopa... e aprendi a exercitar o olhar. A perceber o belo, mesmo que escondido num preconceito que só o amor poderá dissolver. .
Rio, ainda não te disse, mas hoje acordei amando você!
Aguarde-me!

2 comentários:

  1. Delícia de texto, com palavras sabor-gente! Também tive esse olhar para o Rio , há alguns anos! ;-) A gente aprende a ter, quando a vida passa corrida e alheia demais da gente. A lida ensina...rs #aLidaEnsina. Abraço!

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  2. Obrigado Aninha, teu espaço no FB é 10. Parabéns por compartilhar coisas tão boas.

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