Pedalando para a outra margem (Autor Ricardo de Faria Barros, o Ricardim)



Hoje saí do BB e de bicicleta. Do jeito em que entrei, desafiando um guardinha que tinha me proibido. A bicicleta de hoje é melhor. Mas, a outra tinha aquela campainha que virou retrô. Ela me foi dada de presente pelo meu pai, como resto da venda de uma moto totalmente destruída. É que em 1985 sofri um grave acidente com ela. Eu era compensador, do Banco Nacional do Norte - BANORTE, e quando voltava do serviço, pela madrugada adentro, entrei de cabeça num carro. Voltando ao trabalho, após recuperação, fui com a bicicleta fazer a compensação no Banco do Brasil. Perto das 23hrs, bato na portinhola de ferro e o guardinha acena negativamente. Alega que de bicicleta não posso acessar o estacionamento interno. Pergunto-lhe caso eu fosse funcionário do BB se eu podia. ele me diz que sim. E continuou: "Compensadores de outros bancos só entram a pé, de moto ou carro - bicicleta não está na minha lista permitida". Disse-lhe então que um dia entraria ali de bicicleta. Alguns meses depois, passei no concurso do BB, e entrei de bicicleta por aquele portão, para buscar o adiantamento de viagem a serviço, para tomar posse na cidade de Poções-BA, a 1.800 KM da minha. Pedalei causando, como dizem os jovens, todo garboso e de peito inflado. Fui escriturário, caixa, ass, de operações, colaborador, analista júnior, pleno, sênior, gerente de projeto, assessor máster, gerente de divisão e deixo o BB em função executiva como Assessor Especial da Presidência da BBTS.
Saio o melhor do que entrei. Aprendi no lombo algumas lições:
a. Não se deve entrar em todas as brigas, tem que aprender a perder algumas. E sabe se erguer, sem fazer daquilo uma catástrofe, pelas lentes distorcidas da emoção.
b. Não adiantar procurar o sentido no trabalho se não se sente mais o trabalho, se perdeu o sentido da vida. Procure este primeiro. Depois, achar o outro será bem mais fácil. Ou seja, esse sentido não está lá longe, ele está no fazer do agora, até autenticando documentos em filas quilométricas, num caixa de cidadezinha do interior.
c. Mais aprendi com líderes bacanas do que nos cursos e livros. Portanto, inspire-se em pessoas que dão sombra. Tem muito Zé Ruela solto por aí. Gente mal resolvida, infeliz, resmugona, rabugenta e chata, que te levará para baixo. Inspire-se e aprenda com líderes verdadeiros, que muitas das vezes não tem cargo hierárquico.
d. Deixe seu legado. Seja bênção para quem de ti precisar. Melhore o lugar em que chegou, as coisas que encontrou e contribua para que as pessoas sejam emancipadas delas mesmas, de suas estacas interiores.
e. Preste atenção. Ritualize e celebre a vida. Cultive o bom, o belo e o virtuoso. A vida passa muito rápido. Não se importe com o que irão pensar de você.Seja você mesmo, e não um projeto do outro, um ator. Crie momentos especiais com o nada, com o agora, simplesmente prestando mais atenção ao que acontece na periferia de teu viver, que tua preocupação e ansiedade não deixa mais ver, ou valorizar.
Por último, aprendi que o Universo não gravita em torno do BB. Que não sou insubstituível, e que nem sempre foi pessoal a puxada de tapete. Ligar o foda-se pode ser muito importante na sua carreira. Mas, cada vez que eu liguei o meu, tornei-me mais dedicado ainda! Para não dar o gostinho, entende?

Clique abaixo e veja o vídeo dos monentos finais do BB:

2 comentários:

  1. Parabéns, Ricardim!!! Feliz Vida Linda! Tudo faz parte, tudo é aprendizado! Linda sua trajetória, maravilhosa conquista e claro, deliciosa e irreverente passagem! Beijão no coração <3

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  2. Parabéns, meu caro Ricardim, boa sorte e um forte abraço.

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