Cartas ao JG - O Jogo FAR Cry 3


Sabe filho você está viciado em vídeos de jogos pelo youtube. Acontece que o pessoal se filma jogando, e você os vê, e mesmo sem ter videogame diverte-se de montão.
Nem pisca. Esqueceu a casa da árvore, esqueceu de brincar com outras coisas e até os filmes infantis.
Hoje vou desligar esse hábito de você. Tal qual fiz com sua chupeta, quando tinha dois anos.
Nessa noite você saberá que tem limites e voltará a ver a Turma da Mônica ou Bob Esponja.
O tal do jogo FAR Cry 3 nunca mais.
Vi um pouco esse jogo, guiado por ti, para descobrir umas coisinhas que acontecem contigo.
É bala demais, revólver, bazuca, fuzil, tem para todos os gostos.
Agora descobri o porquê de tudo em que pega vira uma arma fictícia. É o tal do FAR Cry 3.
Está chupando um picolé, de repente aponta com ele para o horizonte, tal qual uma arma imaginária e tome: pá, pá, pá, pô, pô... pô.
Já vi “arma” de hambúrguer; livro; pão; ou pedaços de pau e pedra que recolhe nos quintais e vai amontoando pelo jardim. Ontem, em pleno momento de oração das crianças, você estava no canto do altar mirando para comunidade com um resto de brinquedo que achou.
Sem falar que passou a ter medo de Zumbis e Vilões. Noutros filmes que vê.
Com você acontece um fenômeno da psicologia, muito estudado recentemente, chamado de Efeito Tetris.
Se quando estiver lendo essa carta não souber o que era o Tetris, vai uma pequena explicação:
O jogo foi consiste em empilhar quatro quadrados unidos entre si que descem a tela, numa velocidade que cresce gradativamente enquanto o jogo evolui, de forma que completem linhas horizontais. Quando uma linha se forma, ela se desfaz, as camadas superiores caem, e o jogador ganha pontos. Quando a pilha de peças chega ao topo da tela, a partida se encerra.
Pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) financiaram dias de jogos de Tetris para pessoas que declararam que gostavam desse jogo. Eles tinham que passar horas jogando diariamente.
Após alguns dias, o grupo foi convidado a andar pelo centro da cidade, e, quando do retorno, descreverem-na numa redação.
Eles ficaram impressionados, a maioria dos estudantes falava da cidade em termos Tetris.
Explicavam como determinados prédios, caso cortados, ou virados de lado, etc, encaixariam nos outros.
Passaram a ver blocos de encaixe no lugar dos prédios. Assim como você passou a ver em tudo que pega uma arma.
O hábito moldou uma visão e um comportamento.
Cuidado com a força dos hábitos.
Cuidado para que tuas crenças tão arraigadas sobre qualquer coisa não acabem por vê-las em tudo, em todos, e até em você mesmo.
Criando uma distorção perceptiva fruto da maneira que concebe o mundo ao seu redor, reforçada diariamente pelos seus hábitos prazerosos.
Cuidado com o lugar em que mora o prazer.
Se ele não se conceber como algo bom, belo ou virtuoso, aquilo que te dá prazer poderá fazer a muitos infelizes.
Ou a você mesmo, ao não saber mais viver sem aquilo.
Pense nas drogas, por exemplo.
Ou nos hábitos ruins que aprendemos e que podem virar um traço de comportamento.
A fofoca, a mentira, a ruindade, a mágoa, a manipulação, o jogar uns contra os outros, o orgulho, a calúnia e a falta de responsabilidade.
Tudo pode virar um FAR Cry 3, ou um Tetris.
Pratica uma vez e gosta. Pratica duas. Três, quatro e aprende. Aprende coisas ruins.
E, como ser feliz procurando armas em tudo, ou blocos de tetris?
Quando alteramos nossas crenças, alteramos nossos comportamentos.
A visão precede a ação.
Está difícil de entender?
Deixa te explicar. Tinha dias que eu procurava o livro Positividade. Trata-se de um livro que esgotou aqui no Brasil, e o meu comprei em Portugal.
Procurei em todos os lugares possíveis e impossíveis. Costumo perder as coisas.
Revirei meu escritório, botei abaixo pilhas de livros.
Olhei para os de cabeceira umas dez vezes, e não achei.
Até entrei no site novamente, para compra-lo, mas com o frete sairia por 40 libras, e a libra anda cara.
Pensei, vou procura-lo mais um pouco.
Aí, passando a vista pelos livros que ficam à minha frente, livros de uso diário nas aulas que ministro, vi escrito numa lombada Positividade.
Nem acreditei, a puxei para fora e era ele.
Vi onde errara, programei meu cérebro para procurar um livro de capa azul e descartar tudo que não fosse azul.
Então jamais o acharia pela visão somente, era preciso ler as lombadas.
A lombada do livro da cor mostarda.
Entendeu, filho meu, o que aconteceu com minha programação cerebral?
Associei a capa azul, que de fato ele tem, à lombada. Como ter uma lombada de cor diferente da capa, era assim que meu cérebro funcionava,
Então, tudo que não era “lombada azul” nem puxava da estante.
Um grande pesquisador da psicologia positiva, o mesmo que descobriu o efeito Tetris, o Shawn Achor descobriu um outro efeito: O FILTRO DE SPAM CEREBRAL.
Ele nos ensina que nosso cérebro é programado para ver em primeiro lugar tudo que nos ameaça, escassez, limites, tudo que nos preocupa, tudo que em nós causa medo, risco ou ansiedade.
Todas as informações adicionais que não estejam de acordo com essa regra, vão para uma espécie de filtro de e-mails indesejáveis – SPAM, para a lixeira de nosso viver.
Não vemos. Vemos e não vemos.
Chama-se a isto de percepção seletiva de sobrevivência.
Uma pena, que o uso demasiado desse mecanismo de sobrevivência, adquirido desde as cavernas, nos priva de lindos pores do sol, de beija-flores, de pássaros em sinfonias, de pessoas lindas ao nosso redor, e até de nós mesmos.
Uma vez apreendido, esse hábito de focar excessivamente nas preocupações e problemas, o interruptor da percepção seletiva fica ligado nesse modelo mental.
Nada mais tem prazer, noutras áreas de nosso viver.
Entende filho meu?
Não se vê outros aspectos, e aos poucos a vida vi ficando excessivamente negativa, agindo em nós o cérebro reptiliano, o da sobrevivência, e despejando os hormônios do estresse e agitação: cortisol e adrenalina, em doses de envenenar o mais monge dos mortais.
Se é uma dica que posso te dar é para não limitar sua visão a nada.
Ampliar as fronteiras do pensamento, das experiências, desenvolvendo outras visões para além do foco – visões periféricas fruto de uma percepção expandida, que só a esperança, o amor e a generosidade podem lhe dar.
Um dia você vai ter crise de amor. Vai querer que o mundo pare para ouvir tua dor. Vai ver tudo sem cor, gosto ou aroma. Digo-lhe, isso passará. Expanda a visão para os lados e verás amigos, a espiritualidade, o trabalho e os hobbies ainda te dando alegria e sentido de viver.
Um dia vai ter crise no trabalho. Vai querer chutar o balde e achar que o trabalho não tem sentido. Digo-lhe, o amanhã será melhor e no mesmo trabalho. Não saia do trabalho por ser infeliz e achar que o outro te trará felicidade. Saia por outros motivos, por exemplo por sentir que sua vocação pode ser melhor expressada noutro. Aí sim. Mas, não fique procurando um trabalho que realmente goste. O gosto não está no fim. O gosto está no meio. Se ficar procurando um trabalho em que seja finalmente feliz, um chefe, um amigo, uma premiação, uma titulação, uma mulher, uma cidade, uma qualquer coisa, serás infeliz sempre. É que quando alcançares a “qualquer coisa” já ficarás infeliz novamente. A felicidade não vem do alcance, vem do esforço para tal. De curtir o caminho, antes da chegada.
Hoje cheguei mais cedo no Edifício BB no qual teria uma reunião.
Antes de entrar pela catraca, em direção aos elevadores, reparei que tinha uma área à direita por onde circulavam muitas pessoas.
Como tinha tempo, fui até lá.
UAU!. Era uma praça de alimentação, com direito até a bancas de revistas.
Têm meses que frequento esse prédio para reuniões, e nunca tinha a visto.
Se caísse essa pergunta num “Show do Milhão” eu perderia a bolada.
Foi preciso que eu me dispusesse a romper as fronteiras da catraca de acesso ao elevador e explorasse o térreo daquela edificação.
Foi preciso alargar meus pensamentos, expandir minhas fronteiras do agir e do pensamento.
Sempre que alguém te disser que determinado povo não presta, que tal cultura é melhor do que a outra, que tua empresa é ruim, que as pessoas com as quais convive são más:
Você passará a ver a vida por essas lentes.
Então, filho meu, desligue-se desse modelo mental, tal qual eu fiz com teu vídeo game.
Reeduque-se com outros pensamentos, os melhores, aqueles que abrem as janelas de teu viver. Que expandem as fronteiras de teu agir e pensar sobre o mundo que são os quinze valores vetoriais: justiça, paz, amor, perdão, fé, otimismo, esperança, empatia, solidariedade, compaixão, mansidão, flexibilidade, serenidade, gratidão e bondade.
Cada um desses quinze valores é indutor de percepção positiva, ampliadores da visão, por isso os categorizo como vetores da alma.
Nos tornam melhores.
Se não fizer isto, tudo em tua vida se adaptará ao modelo mental subjacente: egoísta, vingativo, maldoso, violento, opressivo e desumano, fazendo que na sua mão até um prosaico picolé vire arma.
Pense nisso.

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