Cuide de sua bateria emocional.


Ontem, finalmente resolvi uma pendência antiga: consertar a tela quebrada de meu celular.
Dirigi-me à Feira dos Importados e aproveitei o intervalo do almoço para arrumá-lo.
Numa simpatia loja a atendente me recebeu, testou a lente do celular fazendo umas fotos e abriu uma ordem de serviço.
Aproveitei que precisava aguardar 60min e fui almoçar no local, enquanto a tela “secava”.
Depois, voltei ao trabalho feliz. Afinal, era menos uma pendência pessoal. Ando sem tempo para mim, e elas aumentam exponencialmente.
Ao descer do carro, já no trabalho, o celular escapole e cai no chão. Pensei: “ Meu Deus, tudo outra vez!”.
Mas dei sorte, ele caiu de bunda pra cima e só tive que recolher a bateria e reconecta-la, a tela estava intacta. Ufa!
Notei um pequeno amasso na extremidade da bateria, nada demais. Liguei o celular e ele estava bacana. Ufa!
À tarde reunimos o grupo para celebrar o lançamento de um projeto e pedi que nos documentassem em foto. Percebi que o resultado da foto era como se estivesse envelhecida, com umas linhas paralelas.
Relevei, devia ter sido a Erica que alterou alguma configuração do celular quando foi tirar a foto do grupo.
Hoje pela manhã fiz outra foto de um céu tipo Brasília, e lá estavam novamente as linhas paralelas.
Ops, algo estranho acontecia.
Limpei a lente e fiz nova foto, sem querer acreditar no que ia, estavam ali novamente as linhas paralelas.
Fui então reclamar do serviço de ontem, lá na loja de assistência técnica que tinha ido ontem.
No primeiro atendimento, a mocinha fez uma foto do saguão e constatou as listas.
Logo ligou para o técnico que ainda não chegara. Ele disse-lhe que estava estacionando.
E eu pegando pressão, tal qual panela de feijão.
Uma confusão de pensamentos em meu interior, enquanto esperava o técnico chegar: “Vou perder mais um tempão sem celular e se o chefe ligar? E se a loja não aceitar que errou? Acho que vou confiscar algum objeto. Acho que vou ao Procon. Acho que vou fazer um BO...”
Pensamentos confusos faiscantes assaltaram-me, mas cessaram ao ver o atrasado técnico chegando para o trabalho.
Respirei fundo e mostrei-lhe o celular. Sua primeira pergunta foi se a câmera estava boa, anteriormente. Contei até 10, e mostrei-lhe a foto que a atendente fez antes de abrir a ordem de serviço e de como estava sem as “listas”.
Depois mostrei a foto recém tirada, ali mesmo enquanto o aguardava e lá estavam as listas.
Ele ficou sem jeito. Alegou que a troca do visor frontal não mexe na função câmera, mas que ele irai abrir outra ordem de serviço, para averiguar melhor o que ocorria.
Nessa hora a máquina deu aquele apito de quando tá faltando bateria.
Eu sempre ando com duas baterias, peguei na carteira a outra que estava cheia e recarreguei.
Ele então repetiu o procedimento de ontem, registrando uma foto após preencher a OS.
Até brinquei com ele, “pra que registrar, se está ruim mesmo?.”
Ele fez uma foto minha e ficou boa.
Sem jeito, tirei outa foto do mesmo local que a menos de uma hora a atendente tinha tirado.
Perfeita.
Pedi desculpas, disse-lhe que não entendera o ocorrido e voltei ao trabalho.
Lá tive uma inspiração. E se fosse a outra bateria. Como a tirei antes que perdesse toda a carga, a coloquei novamente no aparelho e fiz umas fotos: lá estavam as listas. Depois botei a bateria cheia, e nada de listas.
Olhando atentamente a bateria quase sem carga percebi que o amassado era na extremidade superior. Será que aquele amassado tinha alterado a amperagem da bateria reduzindo sua capacidade para uma foto perfeita?
Não sei. Sei que ela não está gerando toda a carga necessária à câmera ou filmadora, distorcendo as fotos. Com a outra estava tudo ok.
Na foto dessa crônica, você verá a foto com listas, a sem listas e a bateria amassada.
O que aprendi que compartilho.
A bateria de nossas emoções altera a percepção das coisas que nos rodeiam, de nós mesmos e dos outros.
Se nossa bateria emocional estiver avariada, ao ter sofrido pequenos amassados, pode ser que nossa energia interior não esteja boa suficiente para revelar toda a vida que se emoldura ao nosso redor.
Esta é a boa notícia: Caso esteja vendo a vida em preto e branco tenha calma consigo mesmo, o problema não são as lentes interiores, é a sua energia vital que está baixa. Alguns a chamam de autoestima. Mas pode ser amor próprio. Pode ser aceitação de si mesmo. Pode ser mágoa encardida. Esperança negada. Otimismo ralo. Perdão adiado. Ou até anemia de amor.
A outra boa notícia, aliada à primeira de que não são suas lentes (ou o sensor LCD) que estão defeituosas (lentes são caríssimas – seguindo a metáfora), é que a fonte avariada de energia vem de seu coração, e, pode levar tempo, mas se recupera.
Ou seja, diferentemente de minha bateria de celular avariada, que para ela não tem mais jeito de recuperar toda a sua capacidade de geração de energia.
Os amassados nos seres humanos não tiram nossa carga emocional por toda a vida.
Tiram por períodos de tempo. Dias, semanas, meses. Mas não por toda a vida.
Nos recuperamos.
Aliás, existem ótimos restauradores de nossa energia emocional.
A espiritualidade, o lazer, os amigos, uma boa leitura, sessão de cinema, caminhada, yoga, dançar, viajar, receber amigos, namorar, envolver-se com uma causa ou ajudar ao próximo.
Contudo, é preciso entender por onde está se esvaindo nossa energia e trabalhar ali, por onde fluem os “elétrons emocionais”.
Chamo a esse processo de autoconhecimento elétrico.
Tem coisas que roubam nossa corrente. Secam nosso vigor. Tornam tudo ao lado borrado, sem cores vivas - como as fotos que retirei com a bateria estragada.
Aliás, seria a última coisa de que suspeitaria. Foi puro acaso de eu ter uma outra bateria e na hora do problema.
Caso contrário, talvez nunca encontrasse o defeito.
O que rouba nossa energia?
Trata-se de uma pergunta para qual as respostas, e o que faremos com elas, serão a diferença entre uma foto boa de nosso viver e uma borrada, sempre a esperar da vida uma resposta.
Pensemos nisto nesta noite.
Não deixemos que nossos amassados tirem o brilho de nosso viver, incapacitando ela, a vida, de se nos apresentar em todo seu fulgor.
Cuidemos de restaurar o quanto antes nossa essência, não nos permitindo murchar mais do que o tempo necessário ao florescer.
Em tempos de dias das mães, lembrei que elas muitas das vezes são como a bateria auxiliar que coloquei em meu aparelho. Quantas das vezes, quando perdemos todas as forças, são elas, as mães, quem carregará nosso interior com a sua própria energia vital.
Afinal, mães estão sempre com um carga de energia adicional - prontas a conectarem-se nos corações abatidos de seus filhos e emprestarem suas forças, mesmo que lhes falte.

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