PSA zero bala. By Ricardim


O dia prometia ser animado, mais tarde seria aberta a adesão ao Plano de Aposentadoria Incentivada do BB (PAI)
e o setor fervia de ansiedade.
Eu estava exausto emocionalmente.
É que houvera passado o final de semana refletindo sobre a decisão de aderir, ou não, ao PAI - já que faço parte do público-alvo.
E tinha decidido pela não-adesão.
O coração ainda galopava: num misto de alegria, alívio, e domando uma ou outra vozinha que o açoitava dizendo: "Não será mesmo tua hora, Ricardim?".
Às 10hrs eu tinha exame preparatório à consulta do periódico de saúde.
Pelo menos poderia sair um pouco e desparecer.
Perto da hora, dirigi-me à clínica.
Estava confiante, embora o exame fosse com um urologista.
Meu exame de PSA indicava que minha próstata estava zero bala. Então, seria fichinha.
Escolhi o primeiro médico com agenda disponível. Esse é o tipo de médico que não é bom criar intimidade.
Chegando ao local, meu pensamento voou para o trabalho. No celular, o uotzap estava frenético.
Olhei de soslaio para os lados, e vi vários garotões dos "Enta", com aparência de poucos amigos.
Um estranho silêncio invadia o local.
Uma moça anunciou meu nome, em timbre forte e decidida.
Elas devem ser treinadas para isso. Parecem sargentos dando comandos militares. Acho que é para o cara não desistir.
Entrei no local literalmente com o c_ na mão.
Recebeu-me, na porta, o Dr. Eraldo, um urologista com 55 anos de experiência e 80 de idade.
Desconfio de médicos que recebem na porta.
Aos poucos fomos estabelecendo um papo legal. Uma espécie de preliminares.
Descobrimos afinidades. Dr. Eraldo é nordestino, um cearense de Fortaleza, e têm cardiopatia, e até sofreu dois infartes.
Trocamos entre nós uma certa cumplicidade cardíaca. Eu com minha ablações e eletrochoques, ele com suas pontes de safena.
Finalmente, ele ingressa no tema da conversa e olha meu exame PSA.
Sorridente, me deu nota dez. "Está igual ao de criança". Bingo! Eu estava a salvo.
Então perguntou: "Têm casos de doença de próstata na família?"
Essa era mole, sabia a resposta de cor. Respondi, impávido e colosso, com um retumbante NÃO!!.
Pronto, passei nos dois testes. Agora seria só finalizar as amenidades e correr para o abraço.
Deixando de lado os exames e a anamnese, ele logo entabulou a conversa sobre o tema praias nordestinas e cardiopatias.
Trocamos até figurinhas de bons cardiologistas.
Nunca acredite em preliminares de urologistas.
Olhei no relógio, como que querendo encerrar a aprazível conversa sobre praias e coração.
O Dr. percebe meu aperreio em querer voltar para o trabalho e dispara: "Mas o senhor não veio até aqui, num dia importante para sua empresa, e vai sair sem um toque!"
"E, deu sorte, tenho o dedo pequeno".
Puta merda. Por que todo cearense tem humor no DNA?
Ele disparou, vamos ali para salinha.
Dessa vez eu estava experiente. Quando ele mandou tirar a roupa só tirei a debaixo.
Há uns cinco anos atrás, tirei tudo, e o cara sacaneou - humoristicamente falando.
Já despido o Dr. Eraldo fuzilou:
"Suba na maca e fique na posição de quem está orando para Meca".
Agora quem queria sorrir era eu, imaginando se eu fosse Muçulmano a merda que daria com aquela referência.
Posicionei-me em cima da maca, tentando reproduzir o que eu achava que seria a posição: "Orando para Meca".
Aí ele soltou um: "Ore direito meu filho!"
Filho da puta, pensei calado. Faltei a lição do catecismo, desse tipo de prece. Acho que preciso ser mais crente e me curvar melhor, deve ser isso que ele quer.
Que vexame!
Durante o exame, desviei meu pensamento para as preocupações com reposição do quadro de pessoal derivadas das possíveis adesões ao PAI. Nunca ter preocupações valeram tanto quanto naquela hora.
Um verdadeiro alívio, ter um monte delas em que pensar.
Mas o toque demorou, e aos 80 anos, poderia ter sacado que o dedo dele iria tremer.
Nossa!
Passado uns eternos minutos, já estava faltando preocupações, quando lembrei-me que o Neymar não vai jogar mais.
Ufa, deu tempo dele sair da pequena área, no caso o médico, e eu respirar novamente aliviado.
Aí, ele olhou nos meus olhos, ao que baixei a vista, e disse: "Está um pouco crescida, mas mole."
- "Dr., mole é bom ou ruim?".
Ele respondeu-me que é bom, mas que preciso fazer uma Eco e retornar.
Agora lascou. Não pela eco. Mas, pelo retorno.
Retorno em urologistas são risco iminente.
Vai que a prece não tenha sido boa, e ele pede para repeti-la?

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