Cuidado com o Avatar


Avatar é um personagem que define a sua aparência, o seu perfil, o seu conteúdo de força, de conhecimento, de armas, de estratégias, dentro de um jogo. Então, um avatar é um simulacro, ou alguém que, naquele momento, vai revestir você da capacidade de atuar em um determinado cenário. Ou seja, é um personagem. Um personagem que tem um roteiro, e em cima desse personagem você opera.
O João Gabriel, meu filho de seis anos, vivia pedindo para jogar no meu celular. A gente fica com muito receio de jogo, é uma coisa muito disciplinada lá em casa. Eu prefiro que o João fique andando, brincando com pau, pedra, subindo em árvores... mas chega um momento em que a gente não pode virar um estranho... todo o grupo dele já joga, já tem essas coisinhas, e aí ele já começa a ficar destoando muito. E agora, com seis anos, ele finalmente ganhou um videogame.
E o videogame dele é um daqueles que vem... XBOX 360, e ele vem com um aparelhozinho chamado Kinect, e esse aparelho interage com você. Então ele fotografa, ele lê seus movimentos. Em vários jogos você não precisa operar com o joystick, você opera com seu próprio corpo. Do ponto de vista de perder calorias é ótimo! Tem até jogos de dança, pra você dançar rumba, tem jogos de pular, correr, se abaixar... eu achei um barato esse negócio! Para mim, que sou velho, olhei aquele negócio se mexendo, aquele negócio lendo meu corpo e achei o máximo.
E o João foi lá pra frente para jogar. No jogo você tinha que descer uma corredeira em cima de uma balsa. E ele, com o corpo, ia navegando com a balsa. Bem bacana! O avatar que apareceu para o João foi um jovem, um moleque com o cabelo desgrenhado, e ele se identificou de cara. De cara ele se identificou com o avatar. Então, o João fazia o movimento e na tela era aquele menininho, aquele avatar, que simulava o movimento. Ele levantava a mão, o avatar levantava a mão; ele dava um chute e o avatar dava um chute; ele ia para a esquerda e o avatar ia pra esquerda, como se fosse ele.
Preste atenção nesta frase: “como se fosse ele”. E o João, chegou um momento em que ele disse “papai, vamos jogar?”. E eu, “como é que faz João?”. E ele “fica aqui na frente”. Então ele selecionou lá, dois jogadores, e a maquininha, essa Kinect, esse robozinho começou a me fotografar, como se estivesse me escaneando, e criou meu avatar.
Mas gente, só pelas risadas do João Gabriel, esse jogo já está pago. O João ria, caía no chão. Mangando de mim, mangando. Porque o meu avatar, que o jogo propôs... sim, o jogo propõe. Você pode ignorar, você pode dizer que não quer aquele. O jogo propôs um avatar pra mim: um castor. Um castor, bem pançudo, bem gordinho. Então primeiro: não era uma pessoa, era um bicho. Era um bicho buchudo... rsrs... um castor! Eu me identifiquei logo de cara com aquele bucho e com aqueles dedos, eu tenho dois dedos aqui na frente, e um vai em cima do outro.
Então brincando né, eu assumi aquele castor, e desci a corredeira, e coisa e tal, e depois eu fui descansar e fiquei pensando: “meu Deus, qual o perigo de a gente acreditar no que acham que a gente é? Qual o perigo da gente acreditar nos avatares?” Vejam: os avatares com os quais a gente se identifica, como o menininho lá do João, e esses avatares que não fazem tanto sentido, como o castorzinho do Ricardim. Esse perigo é a gente passar a viver uma vida em função de um personagem. Então, em primeiro lugar, o caso do João, que era um personagem bacana né, atribuído pelo jogo para ele, descolado e tal. Mas aquele era o João mesmo? Todos os dias o João estava naquele personagem? Cabelo transado, roupa transada? Não tem dias que o João vai se sentir deslocado? Não vai bater aquele personagem?
Então quando nos é atribuído um personagem e ficamos reféns dele, o primeiro que vai para o saco é a nossa identidade. O segundo é a nossa capacidade de mudar, porque a gente vai ficando escravo ao personagem, refém do personagem. Então de repente, na família, você vive o personagem rabugento. Todo mundo começa a lhe associar como o rabugento da família. Olha o perigo desse avatar! Seu avatar é o do rabugento, aquele que está sempre do mal. Ou alguém colocou outro avatar, como aquelas galinhas d’angola que ficam dizendo “tô fraco, tô fraco, tô fraco”... você é o fraco. O que não consegue tocar nenhum projeto até o final, não consegue terminar nada. Então, a família, os amigos, as instituições onde você convive, lhe atribuíram esse personagem.
E você aceitou. Você aceita e diz para você mesmo “tô fraco, tô fraco...” Eu sou essa avatar. O avatar da fraqueza. O outro avatar: a vítima. Você é vitima das circunstâncias, você é vítima dos outros, e se brincar, você é vítima até de si mesmo. Muito cuidado! Muito cuidado! Porque quando você prega em você este carimbo, bate este carimbo deste avatar, deste personagem, e passa a jogar o jogo da vida com base nele, você perde uma imensa oportunidade de se autoconhecer, de revisar padrões de comportamento, crescer, mudar, e ser melhor como pessoa. Porque você acomodou seu avatar, você disse “eu não mudo, é só isso mesmo”. “Eu sou rabugento”, e até bate no peito, “eu sou rabugento mesmo, todo mundo sabe, quem quiser que me aguente assim”. Ou eu sou cri cri, sou crítico, sou assim, desde pequeno. Vira quase que um sobrenome. Fulano, Sicrano, o crítico. Fulano, Sicrano, o rabugento, o negativo... Não queira. Não queira.
Eu tinha uma funcionária, que todo o grupo chamava ela de brava. “Você é muito brava, você é muito brava!” E ela dava risada, dizia “eu sou assim mesmo”. Ela ria. Ela era brava com cliente, era brava com os colegas, tinha dia que chegava, nossa... dava coice. E aí, eu a chamei num cantinho e disse “não queira isso pra você”. E ela “o quê?” E eu disse “não queira que as pessoas te identifiquem como brava, porque embora eles estejam brincando, e você não seja essa pessoa que eles estão falando, só em alguns momentos que eu acho que você é mais severa do que o restante do grupo. Mas se você aceitar este avatar, este personagem, este papel, passivamente, sem operar sobre ele, ele vai virar um estereótipo, vai virar uma marca sua. E vai dificultar sua ascensão”.
Porque na medida em que você vai subindo na cadeia alimentar da hierarquia das organizações mais vai sendo requerido de você dos aspectos emocionais, inteligência emocional, e menos de inteligência técnica, dos aspectos técnicos. Você vai sendo chamado cada vez mais a ser maestro, líder, catalisador, mobilizador de pessoas, harmonizador, articulador, negociador, do que técnico que opera um processo, um sistema, que defende uma ideia aguerridamente, que acha que aquela ideia dele é a mais certa.
“Então, esse seu avatar de bruta vai correr à frente de você, e as pessoas vão lembrar disso em processos seletivos futuros”. Pronto, mudou. Eu me lembro que tinha uma outra pessoa que trabalhava como ascensorista. Na época tinha ascensorista de elevador, aquela senhorinha que ficava lá... hoje em dia os elevadores são quase todos automáticos. Mas antigamente, se você não é desse tempo, tinha uma pessoa que operava o elevador. Então ela botava o andar e você subia. Então o papel dela era botar o andar ali e você subir com ela. Aí, eu trabalhava no quarto andar da agência Campina Grande. O quarto andar era onde funcionava o setor de recuperação de dívidas. Então era um andar interno, raramente um cliente ia para lá, porque a gente trabalhava com dossiês e processos e mandava para a agência para fazer os acertos. A agência era no terceiro andar. Mas quando subia algum cliente para o quarto andar era algum documento que ele ia entregar, alguma assinatura que faltou, era alguma excepcionalidade ou um caso mais grave, que não dava para atender no terceiro andar. Geralmente um casos em que a gente iria buscar na justiça uma última negociação com o cliente, antes de reivindicar o bem que ele deixou em garantia de um empréstimo.
Então o cliente chegava arrasado no quarto andar. Eu dizia que no quarto andar, quando entrava um cliente ele entrava carregando o peso da frustração de não ter conseguido lograr êxito num empreendimento, para o qual virou um financiamento. A ascensorista, o avatar dela em todo o prédio era “raivosa”. Não tem aqueles sete anões? O dela, que o grupo deu a definição, era a zangada. Então todo mundo sabia “não, ela é assim mesmo, ela é zangada, mas não morde não”. Beleza. Um belo dia ela me pegou também zangado nesse dia. Eu entrei, dei bom dia, ela não olhou pra mim, eu disse “quarto andar”, ela apertou o número, não olhou pra mim, e ela tava lendo alguma coisa da revista da Avon e continuou lendo até em cima. Eu fui trabalhar com aquilo ali, invocado, invocado.
Aí passei um tempo assim, e falei “sabe duma coisa, agora eu vou descer, eu vou falar uma coisinha para aquela senhora sobre atendimento”. Aí pedi, quarto andar, o carro chegou, a senhora, como era de costume, mais uma vez não olhou pra mim, não era o feitio dela, e eu disse “subsolo”. Então nessa agência eram quatro andares e ainda tinha o subsolo onde era o estacionamento, o subsolo, onde guardávamos nossos carros. Eu queria mais tempo com ela. E o carro foi descendo, pro subsolo, não foi parando em canto nenhum porque ela sabia que era subsolo, e as pessoas geralmente pedem do térreo para o primeiro, do segundo para o terceiro, e eu disse pra ela “a senhora sabia o que é o quarto andar?”. Ela olhou pra mim, a primeira vez que ela olhou em anos, “não”. Eu disse “o quarto andar é a antessala do inferno. As pessoas que a senhora traz para o quarto andar estão sofrendo, porque elas vão perder algum tipo de bem por algum empréstimo. Os funcionários que trabalham no quarto andar, eles também tem o seu nível de sofrer, porque eles passam dias analisando operações de crédito que não deram certo. Eles também não gostam de ver que o cliente não conseguiu lograr êxito num empreendimento. Então quando a senhora pedir, quando alguém pedir no seu carro de elevador para ir para o quarto andar, dê o sorriso mais bonito. Dê o bom dia mais feliz, porque a única boa que ele vai ter, na entrada e na saída do prédio, quando ele pedir para vir pro quarto andar, seja ele funcionário, seja ele cliente, é o seu abraço, o seu bom dia, o seu olhar doce e de esperança”.
Eu não sei se ela já pensava aquilo, eu não sei se alguém já tinha dito aquilo dela, esta senhora gente, mudou. Também não sei se fui eu que falei, não sei ela já vinha trabalhando... não sei. A mudança foi perceptível, perceptível. E tinha uma pessoa que operava, quase todos os dias ele ia ao quarto andar, porque ele tinha muitas dívidas e estava negociando quais os bens que seriam primeiro leiloados, até para ele não fechar o negócio dele, não era interessante para ninguém.
Eu vim para Brasília, depois dessa conversa com ela, meses depois eu vim para Brasília em 1997, passei oito meses em Brasília, voltei, estava em um projeto, voltei, eu só vim definitivamente em 1999, e quando eu volto eu pergunto “ei, o que que houve? Cadê a zangada?”. Veja aí, como é o avatar? Oito meses depois e eu ainda me referia à moça “cadê a zangada?”. E os colegas “não soube não, Ricardim?”, e eu “não, o que houve? Foi demitida?”. Viu aí a segunda? a expectativa de alguém que aceita um avatar assim? E eu digo “não, não senti que foi demitida não, ela não foi demitida não.” Ela recebeu a proposta de outro emprego. E eu digo “foi mesmo?”. Aí eu já fiquei surpreso. Foi, ela recebeu a proposta, um daqueles clientes, por questões éticas eu não vou revelar o nome neste áudio, um daqueles clientes que iam muito no nosso andar começou a estabelecer um diálogo com ela, inclusive ela nos dá testemunho do quanto ele se sentia acolhido quando pedia para ir ao nosso andar. Recebia dela sempre um “bom dia”, palavras de esperança, até versículos da bíblia ela selecionou e mandou para ele, entregou para ele. E ele estava precisando de uma secretária. Ele não podia mais pagar a anterior, porque ele quebrou, mas ele precisava de uma pessoa para anotar recados e para tocar o que restou da empresa dele, do lado dele. E que aceitasse ganhar, sei lá, 50% a menos de que o outro, mas mais do que o trabalho dela como ascensorista. E ele a convidou. E eu digo, “que bacana, meu Pai”. “Que bacana, meu Pai!”.
Então gente, a crônica de hoje é para a gente nunca aceitar avatar, de espécie nenhuma. A gente pode até dizer papéis, sim, a gente em algum momento pode estar vivendo o papel de zangado, de rabugento, de nervoso, pode, pode. Em algum momento da vida a gente pode acordar assim, como a gente diz lá no nordeste, com a pá virada. Mas são momentos tá? São momentos, são ciclos, não são definitivos. Eu não sou isso, eu estou isso. Então, qualquer que seja o avatar pode lhe aprisionar numa amálgama, numa gaiola. Cuidado, cuidado! Cuidado para você, nesta gaiola, não começar a representar um papel que não é o seu, é o papel do outro, que o outro projetou sobre você, e você aceitou esse papel passivamente, sem operar sobre ele, sem se transformar... isso é assumir outros papéis, outros avatares. Mas, sempre, em mudança, em evolução, porque não existe para o ser humano aquela história “pau que nasce torto morre torto”, não existe. O ser humano pode, através da educação, através do relacionamento com o outro, através da força do amor, da força da espiritualidade... ele muda. Muda sempre.
Então mude e procure outros avatares que ajudem a construir um mundo melhor, uma sociedade melhor, o avatar do justo, esse é um avatar digno de por ele ser vivido. O justo. O pacificador, esse é um avatar bacana. O pacificador. O solidário. Ô avatar lindo! O solidário. Ô palavra linda. O jardineiro de pessoas. Olha que bacana! Você cultiva relações. Então procure avatares com valores universais, valores da vida, que esses aí não precisam mudar não. Esses aí vão dar suporte. Agora, toda vez que você olhar para a televisão da vida, para o jogo da vida, e nele você ouvir das pessoas que você é um castor barrigudo, ou seja, um animal, aprenda com aquilo, reflita, procure razões, calce as sandálias de quem falou aquilo, até que ponto será que a pessoa não está ferida, você não a magoou, até que ponto o seu comportamento não gerou nessa pessoa esta percepção, até que ponto você precisa mudar, mas não se limite a este avatar. Não deixe que as pessoas lhe diminuam. Não deixe que as pessoas lhe humilhem, lhe oprimam, colem em você um preconceito, um apelido lhe xinguem, pratiquem a palavra da moda – bullying – com você. Ou assédio. Você não é esse barrigudo, dentuço, castor. Isso é como alguns lhe veem. Mas você não se veja assim. Se veja muito diferente disso. Se veja para além do barrigão. Se veja com amorosidade, com respeito a você mesmo, com auto estima, com consideração. Tire de você qualquer sentimento de comigeração, ou vitimização. Não se acomode ao que acham de você e você acabou acreditando. “Ah, aquele ali nunca vai amar, aquele ali nasceu para as noitadas, para as baladas, não vai ser feliz com ninguém”. Mentira! Vai ser feliz sim, você não é este avatar do pegador, do fútil, do que não consegue se vincular a alguém com sinceridade, não! Você pode até ter tido cenas na sua vida nas quais você representou este papel. Mas se você quiser mudar, se essa força interior de transformação for ativada por você, você muda sim. E você vai se tornar o cara mais confiável do mundo para uma relação a dois. O mais amigo, o mais bondoso, o mais generoso. Você sai deste papel de pegador, de fútil, de gente que só quer uma noite de transa e no outro dia nem um telefonema, ou quando dá um telefonema é só para dizer “foi bom e até logo”. Não tem gente que tem este avatar? “Ah, comigo não vou ser feliz nunca com ninguém, porque eu não consigo me relacionar”. Consegue, consegue.
Mas a primeira coisa que você tem que fazer é operar sobre esse “eu não vou ser feliz com ninguém”. Cuidado, com esses rótulos, cuidado com esses carimbos existenciais. Porque eles operam. Eu tenho uma tese ainda não comprovada, que algumas pessoas que tem sobrenomes bacanas, sobrenomes que associam a valores, em algum momento se sentiam presas a eles, a vida delas é diferente, elas vão corresponder à expectativa daquele sobrenome. Imagine uma pessoa, e eu já conheci um, chamado Edgar Amoroso. Olha que lindo! Eu suspeito, que durante toda a vida dele, tanto ele ouviu gracejo, como ele procurou pautar os relacionamentos, as atitudes dele pela amorosidade. Porque quando ele saía da linha, sempre tinha um sacana que dizia “cadê o amoroso? cadê o amoroso? virou raivoso foi?”. Então, eu estou trazendo esse exemplo, é uma tese não comprovada, eu estudo isso, o efeito do sobrenome, valorativo ou desvalorativo... eu conheço um amigo, Você deve conhecer algum sobrenome que fala algum tipo de valor, substantivo, de adjetivo. Patrícia Poeta. Você imagina o quanto essa menina começou a poetizar a vida, porque a expectativa social na representação do nome dela é de poesia.
Então, se até o nome, coisa simples, pode alterar nosso comportamento, imagine coisas que foram dizendo de você ao longo dos relacionamentos e você foi aceitando como verdades, como fatos concebíveis. Então hoje, o tema é avatar. Avatares são papéis. Papéis nós vivemos durante nossa vida. Papel de pai, de trabalhador, de vizinho, de sócio de alguma agremiação, são papéis. Até aí tudo bem. Cuidado com estereótipos que os papéis podem carregar consigo. E cuidado com os rótulos. Será que em cima do seu nome, quando as pessoas falam, elas não imaginam caladinhas um rótulo? Você é o Beltrano, mas por dentro delas elas dizem, o crítico. Você é Sicrano mas por dentro delas elas dizem o chato, o que só vive murmurando, o rabugento, o falso, o mentiroso, o grande eloquente, o orgulhoso, o pavão, o urubu, o que dá coice em todo mundo, o que não tem juízo, cuidado. Aprenda, não aceite e mude, mude para melhor. E alguns avatares que colocaram em você, mesmo do bem, também cuidado. Cuidado para não ser besta. Cuidado para não ser usado, manipulado. Beltrano, o servidor. Ótimo ser servidor, eu daria a vida para ganhar um avatar desse. Mas teria muito cuidado também para não passar a ser explorado. É o troca lâmpada, é o que é servil, cuida de todo mundo, ajuda todo mundo, serve a todo mundo ao extremo, e esquece da família dele, esquece dele, porque só está disponível para o outro, para as instituições, para quem procura ajuda. Esquece de construir em casa a sua própria família, e esquece até de ter tempo para ele mesmo... a agenda e tão...
Este “ele” de quem eu estou falando sou eu, gente. Sou eu. Meu primeiro casamento, uma das causas de ter estragado, uma das, teve várias, mas uma delas é porque minha agenda de serviço era de segunda a domingo. Reunião, reunião, reunião, pastoral, pastoral, pastoral, crisma, catequese, grupo de apoio à vida, hospital, reunião, reunião, reunião, voluntário... então eu era o avatar Ricardo servidor. Só que eu me acostumei com esse avatar, gostei dele, recebi estímulos dele, e esqueci outros avatares. Ricardo pai, Ricardo marido, Ricardo um ser de alta consciência que pode, naquela noite, ao invés de estar em mil projetos de serviço, pode estar cuidando dele mesmo, pode estar brincando, se entretendo, fazendo lazer, lendo, percebe? Então, o risco existe junto, assim como um remédio, entre a dose está o veneno ou a cura. Cabe a cada um da gente saber quais os papéis que a gente está vivendo, quais os que devem ser reforçados, mantidos, quais os que devem ser ajustada a dose, para menos ou para mais, e quais aqueles que estão na hora da gente rir da televisão, ao invés de deixar o Kinect zombar comigo, que eu sou um castor gordinho, quando aparecer a opção “trocar o avatar”, eu vou dizer “troca esse avatar sim, não quero isso não. Não quero essa brincadeira não. Não quero, porque brincadeira, que a princípio é uma brincadeira, ela pode trazer consigo comportamentos culturais ou valores que podem diminuir, dificultar o meu crescimento como pessoa humana, porque eu vou começar a me aceitar como esta pessoa, deste avatar. Então não aceitem nada que lhes limitem. Não aceitem nada que lhe diminua. Não aceitem nada que lhe aprisionem em gaiolas imaginárias vindas das palavras, que as palavras vestem as ideias e as palavras podem criar algemas ou asas. Não queria avatar de algemas, queira de asas.
Ps. Obrigado Anna Luiza pela tão consistente transcrição dessa áudio-crônica.

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