Saltem, Desçam, Observem e Exercitem.


De meus quatro filhos, dois aniversariam nessa semana.
O João Gabriel (JG) e o Tiago, fazendo 6 e 30 anos, dias 6 e 9/7 respectivamente. Quanta alegria!
A vida tem me falado de várias formas, em todas elas estão vocês, minha melhor porção: Tiago Barros, Priscila Magalhães, Rodrigo Barros e JG.
Eu poderia resumir tudo que gostaria de deixar escrito para vocês nessas fotos de hoje à tarde.
Na primeira delas, o JG projeta-se do telhado para a cerca. Num salto "mortal", em que para lograr êxito, usou toda as forças para segurar num resto de cerca cada vez mais distante. Sim, ele conseguiu.
Saltem. É a primeira mensagem que deixo. Não temam. Projetem-se sobre o vazio do infinito, com coragem e determinação. Não desistam de seus sonhos. Na vida não tem almoço grátis. Para crescer, e crescer dói, precisarão de esforço, disciplina e ousadia.
Levarão um ou outro tombo, faz parte, prefiro tombos dos que procuram ser mais, dos que ficam no pseudo-conforto de uma vida medíocre. Note que seu pai falou "ser mais". Não falei "ter mais". Aprenderão com o tempo o valor de ser, que a traça não corrói e ladrão não rouba.
Sei que às vezes acharão que o "resto de cerca" estará tão longe, distante, e até impossível. Muitas das vezes ficarão petrificados de medo: do desconhecido, da dor, da incerteza e até do luto, e temerão não conseguir. Mas, tentem não desistam à primeira queda, tombo, escorregada. Perseverem, lembrem-se do que sempre ensino: "isso também passa." A vida só acaba no apito final.
Escalem as cercas imaginárias que lhes aprisionarão. Saiam dos "canils" em que entrarão. Procurem suas melhoras. Não deixem anestesiar seus relacionamentos. Não parem de se assombrarem e encantarem-se com a vida. Fujam dos monstros do medo, indiferença, inveja e rancor. Escalem-se desse lugar do ser que só trará infelicidade.
"Por não saber que era impossível, ele foi lá e fez". Li esse belo pensamento de um poeta chamado Jean Cocteau, e é a síntese da mensagem da primeira foto: não se permitam aceitar qualquer prisão, escale-as rumo à aventura do desconhecido, mesmo que inseguro. Renovem-se seus primeiros amores. Não se deixem envelhecer num "canil" qualquer.
Desçam. É a segunda mensagem que queria lhes dedicar.
Aprendam a descer as escadas do orgulho. A vida vai querer enganar vocês, mostrando que é preciso subir as escadas sociais - a todo custo e de toda maneira. Que a ambição preencherá vazios, que a beleza garantirá juventude, que o dinheiro manterá amores, que a felicidade será alcançada com a conquista de algo. Verão, com suas próprias vidas, que sem descer as escadas do consumo, do poder, do prazer pelo prazer, da ganância e egoismo nunca serão felizes. A felicidade não é chegada, é o caminho até.
E, numa outra metáfora, saibam perder, aprendam a descer. Isto é tão importante quanto saber subir, deixando os degraus intactos. Estamos produzindo uma geração de pessoas que desaprenderam a perder, a ter limites e restrições. Pessoas frágeis demais, narcisistas demais, resilientes de menos e amorosas de menos.
Vai ter momentos que vão descer. Não temam, recomeçar, alterar ou refazer rotas, tentar outros cursos de ação. Não temam. O medo imobiliza, confiem na força da esperança.
Se na primeira mensagem falei da ousadia de sair de canis, pulando no vazio do vir-a-ser, nessa, falo da importância também de saber descer as escadas e ficar. Nem toda saída é sábia.
Cuidado com os modismos, cuidado com falsos "saltos". Cuidado para não desistirem de tudo que os aprisionem.
Precisamos do conforto dos vínculos, da segurança dos outros que amamos e suas instituições. Somos sociais e gregários. Precisamos de certas prisões, ou vinculações, melhor dizendo: do trabalho; da família, dos amigos, dos grupos sociais que participamos, do relacionamento afetivo. Desçam as escadas quando estiverem querendo desistir na primeira briga do casamento; na primeira puxada de tapete no trabalho; na primeira indiferença que receberem de amigos. E, até de sua família. É filhos meus, têm pessoas que desistem até de suas famílias, nunca mais voltam para elas descendo as escadas do coração. Outros, o pior ainda, desistem de si mesmos. Não fazem a viagem mais preciosa que é aquela na qual nos permitimos descer em nós mesmos,nos compreendendo e conhecendo: pontos fortes e fraquezas, crescendo com o sabor e as consequências dessas descobertas. Não mude por mudar. Têm muitos valores que não deverá nunca abrir mão deles, ao escalar a escada social.. Desçam as escadas de seu coração em sua busca, caso corra riso de perdê-los. No porão de uma criança, eles ali estarão: a generosidade, a alegria de conviver, a curiosidade, o afeto, a liberdade e a capacidade de bater a poeira e recomeçar.
Observem. Na vida quando estiverem no meio de um monte de preocupações e aflições, subam no telha de seus corações e expandam a percepção da vida. Há muita coisa boa, bela e virtuosa que acontece nas "beiradas" de suas vidas. Cuidado com o foco excessivo no negativo, na crítica de tudo, de todos e da situação. Aprendam a escalar telhados emocionais e contemplar. Ver a vida de outros ângulos. Buscar outras fontes de referências para melhor perceber a si mesmos, aos outros e à realidade. Aprendam a cuidar das coisas espirituais, não as deixem em segundo plano. A dimensão intangível, ou subjetiva do viver, é o telhado do ser.
Tenham muitos telhados para erguerem-se de si mesmo, e de algum possível mar de lama que venha a nele chacoalhar.
Durante todo o dia, na luta pela sobrevivência, vocês se envenenarão com cortisol e adrenalina. Hormônios do estresse que nos capacitam à fuga, defesa e luta. Cuidado com eles. Embora importantes, o que acontecerá se não souber dosá-los é que em sua vida só haverá espaço para fuga, luta e ataque. Sendo sempre palco de culpa,sofrer e perda. Não sobrarão espaços para a poesia, para as belezuras da vida, para a misteriosa entrega da abelha à flor, e da flor à abelha.
Conserve seus telhados existenciais intactos. Caso ainda não os tenha, construa-os. Valem ouro. Tenham-nos sempre à vista. Subam neles periodicamente e observem. Experimentem desconectarem-se um pouco da tecnologia e conectarem à natureza, às pessoas e aos seis sentidos do viver.
Meu telhado principal é a espiritualidade. Tenham seus próprios telhados, lugares de renovo do ser, apriscos da alma, spas emocionais. Cuidem para não virarem brutos, autômatos, pilotos automáticos de toda a espécie. Gente incapaz de relatar como foi o dia anterior, quantas bênçãos neles estiverem presentes, o que comeu, o que sentiu, o que viveu...
“A verdadeira viagem de descoberta consiste em não procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.” Disse o escritor Marcel Proust. Eu completaria, dizendo: olhem à vida para além das paredes de prisões e arcabouços emocionais, sobre telhados espirituais, de qualquer natureza.
Exercitem
Falo de exercícios para o espírito. Para o ser. Aqueles que produzirão essa cena de felicidade da quarta foto. Felicidade interior. Levem-se diariamente à academia emocional. Nela, queimem as calorias e a toxidade derivadas do existir.
Nessa academia há alguns exercícios cujo efeito colateral será a felicidade, ou bem-estar. Recomendo-lhes fortemente que os pratiquem, e com rigor e uso desmoderado. Pratiquem a bondade. Tenham sempre cinco saquinhos de bondade para distribuírem ao longo do dia. Não importa se não receberem de volta. Pratiquem o perdão. Haverá pessoas que merecerão uma segunda chance, que eventualmente pisarão na bola com vocês, mas que repensarão as atitudes. Não criem mágoas no jardim de seus corações, nutrindo-as dia a dia com o adubo do ressentimento e a água da resignação. Perdoem-se a si mesmos e cuidado com a culpa. Aprendam com elas, mas fechem estas páginas do livro da vida, não a arrastando em anos a fio. Exercitem a contagem das coisas boas, belas e virtuosas que acontecem nas suas vidas, e diariamente. Estão em todo lugar. Preste atenção nelas. Estejam atentos. Saiam de casa com o firme propósito de vê-las. Contem suas bênçãos. Exercitem a doação. Doem tempo, afeto, paz, justiça, gentileza, serviço... doem-se. Se têm duas coisas que vocês se lembrarão é de quem foi bom e generoso para com vocês, e de quem os ajudou. Ajudem a melhorar o lugar em que habitam. Então, não poupem queimar essas calorias. Por último exercitem-se na prática dos bons valores que mantém a humanidade menos má: ética, cidadania, justiça, solidariedade, paz e respeito. Queimem e livrem-se das toxinas das emoções negativas, calorias do mal que causarão em vocês o entupimento do fluxo do amor, a arteriosclerose no coração afetivo, são elas: a mentira, a inveja, a fofoca, a mágoa, a raiva e a opressão do outro, de qualquer tipo.
São cupins da alma e do bem-estar, as pessoas se entopem desses sentimentos e ainda querem ser felizes, não serão nunca.
Por fim, o mais importante dos exercícios da alma, verdadeiro abdominal, pratiquem o amor. E sempre! Um amor de imensidão, de acolhimento, de entrega, de ternura, de recomeços, de esperança, de otimismo, de possibilidades.
Um amor que sara, cura, conforta, enlaça, alimenta, protege, liberta, apoia, motiva, estimula, nutre, encanta e socorre. um amor que subverte a ordem reinante e faz novas velhas criaturas. Ah! o amor. Como seu pai amou e ama. Amores que foram revolução, renovação e mistério. Amem, mesmo se tudo ao lado negar-lhes o amor. Amem!
"Ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." 1 Coríntios 13:2
Feliz aniversário meus filhos!

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